quarta-feira, 11 de janeiro de 2012

QUAL É O LIMITE DO CAVALO?

Alguns dias atrás o Cesar Zabiela, de Amaral Ferrador, me fez o seguinte pedido: 
"Ontem aqui um guri perdeu um cavalo correndo égua no campo. O cavalo deu tudo e não se recuperou e o guri ficou num canto de campo que a gente não via. Quando chegamos lá o cavalo já tinha morrido.
Se der para falar um pouco sobre isso, muita gente não sabe o limite do cavalo e menos ainda o que fazer nessas horas. Forte abraço."

Para uma avaliação correta e precisa do que acometeu este cavalo, obrigatoriamente um exame clínico (quando vivo) ou uma necropsia seriam necessários. Existem algumas patologias causadas pelo excesso de exercício que cursam com sintomatologia parecida, tais como exaustão muscular e rabdomiólise.

Mas porque abordar este assunto em um blog sobre comportamento? Porque o comportamento é a base para compreensão de tudo o que envolve o cavalo. Explico:

Como já citei anteriormente, as principais causas deste tipo de patologias são o excesso de atividade física ou a falta de condicionamento físico. Lembra que eu contei neste post que o cavalo tem instinto de presa e neste outro post que o cavalo é muito generoso? Pois bem, estas duas características geram uma terceira, muito perigosa: os equinos, ao contrário dos humanos, não associam a dor ao sofrimento. De maneira que, quando perseguidos (em natureza) ou quando solicitados (domesticados) eles não medirão esforços, seja para salvar a própria vida, seja para satisfazer a vontade do dono.

A diferença está no fato de que em natureza este animal passa o dia inteiro livre, caminhando e brincando, o que lhe dá condicionamento físico. Para animais domesticados e principalmente estabulados, é responsabilidade do proprietário atentar para o bom condicionamento físico do equino. Definitivamente, cavalo gordo não é cavalo bem condicionado.

Essas patologias são muito comuns em cavalgadas, quando os proprietários de final de semana buscam seus cavalos nas hotelarias ou sítios, embarcam em um caminhão e simplesmente bota o cavalo para andar 20, 30, 40 quilômetros com encilha e mais o peso da pessoa em cima. Na cavalgada do mar, essas distâncias ainda são percorridas na areia, o que necessita mais esforço físico por parte do cavalo.

Este tipo de patologia geralmente é de curso rápido, agudo. Isso significa que os sinais aparecem subitamente, o que torna mais fácil a prevenção do que a remediação.

Para prevenir é fácil... exercite regularmente seu animal. Se o objetivo é uma cavalgada de 30km diários, comece um trabalho mais focado cerca de 30 ou 40 dias antes, onde progressivamente se aumente a distância percorrida e o grau de dificuldade do terreno. Não consegue programar com antecedência os eventos? MANTENHA SEU ANIMAL SEMPRE BEM CONDICIONADO! É necessário lembrar que esta é uma das responsabilidades de quem almeja ter um animal, e deve ser levada em conta na hora da aquisição. 

Para remediar esta situação é mais complicado, e sempre haverá a necessidade da presença de um Médico Veterinário para o tratamento, que inclui fluidoterapia, fenilbutazona, e repouso, além de medicamentos específicos para cada patologia e cada indivíduo.

Uma dica importante: Permita ao animal beber água em quantidades moderadas porém em diversas vezes durante e após o exercício. E em um caso como este acima citado, jamais dê água a vontade ou em quantidades superiores a 10 litros em uma única vez. Permita ao animal beber 2 baldes de 5 litros, espere cerca de 15 minutos e repita a quantidade. 


Dúvidas? Dicas? Sugestões? Um abraço!



4 comentários:

  1. Boa Noite!Ao ler esta postagem me lembrei de um caso que presenciei: Na ânsia de participar de uma prova que estava muito próxima,vi um treinador submeter um excelente potranco crioulo a um exagerado esforço correndo bois no campo a tarde toda em um dia que fez 40 graus em Porto Alegre!Resultado:ao chegar em casa o potranco não mais se mexia do lugar,estaqueado,urinando sangue,e com princípio de laminite!resultado: Morte por Aguamento,com a sola furada e a terceira falange de fora.Sem falar no quadro grave de acidose.Só a experiencia e observação vão nos dizer a hora de parar de pedir esforços aos nobres animais!Um abraço e parabéns pelo Blog!

    Hiparcus Raupp Junior

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  2. Verdade Paco... a experiência nos diz muito, mas o bom senso deve imperar também. Quando estamos cansados, a gente sabe rapidinho a hora de parar... temos que respeitar o limite dos cavalos também. Neste caso, a laminite é resultado do quadro agudo que se instalou pela exaustão (acidose). É uma pena, e muito comum ainda. Obrigado pelo comentário. Qualquer dúvida dá um grito aí. Abraço.

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  3. bom dia, parabéns pelos ensinamentos do teu blog.
    gostaria de compartilhar uma experiencia e tirar uma dúvida, estou montando uma égua para um amigo, ontem ao lavar ela após o trabalho percebi uma situação qeu nunca tinha presenciado, ao empurra-la na anca para sair de cima da mangueira, ao invéz dela ir para onde eu a empurrava, ela seguia contra a minha pressão, o lugar nao tem qualquer obstáculo nem mesmo barranco ou coisa assim, é um piso bem amplo, achei engrassado isso, gostaria qeu o amigo comentasse.... ai invéz dela fugir da pressão, vai de encontro a ela...
    obrigado pela atenção
    Jeiso.

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  4. Boa tarde Jeiso, obrigado pela pergunta! É sempre bom quando há participação.

    Vamos lá: sobre teu comentário... Este comportamento é muito normal por parte dos equinos. A isso eu chamo de “entrar na pressão”. Ou seja, quando o animal sente uma pressão pelo lado esquerdo, por exemplo, ao invez de sair da pressão indo para o lado direito, ele entra na pressão e vem para o lado esquerdo... É a mesma situação que ocorre quando se palanqueia um cavalo... ele entra na pressão que o buçal exerce na nuca e senta para trás... Este comportamento tem explicação no instinto de presa que existe ainda muito forte nessa espécie. Ocorre que, em natureza e quando abocanhado por um predador, a única opção do cavalo é ir de encontro ao agressor e não para o lado oposto, uma vez que se ele vai contra a mordida o dano será bem maior... Haverá uma laceração ao invez de apenas furos. É uma defesa... um último recurso... interessante é conseguirmos notar ainda este comportamento nos animais hoje em dia... Isso demonstra quão fortes estão ainda presentes os instintos na espécie. Espero ter explicado! Qualquer dúvida, prende o grito! Abraço, Thiago.

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