segunda-feira, 29 de outubro de 2012

VÍDEO DE UM POTRO COM TRAUMAS - EXTREMAMENTE AGRESSIVO!

Este potro crioulo, inteiro, de pouco mais de 2 anos apresenta um trauma comportamental motivado pelo mau manejo. Estas reações não são fruto de violência para com o potro, e sim pelo excesso de manejo e não correção destes comportamentos quando mais novo.

O vídeo demonstra as reações agressivas do potro diante do manejo básico de cabresteamento e guia. As imagens correspondem aos primeiros contatos com o potro e servem para avaliação dos traumas e visualização das reações, para posterior tratamento.

O objetivo da filmagem é demonstrar como o excesso de manejo dos potros pode ser prejudicial. E que traumas não ocorrem somente pelo uso de violência, e sim pelo manejo inadequado, especialmente em se tratando das correções de comportamentos ruins logo que aparecem.

Este cavalo demonstra uma ausência quase que total de medo, somada à uma característica individual muito forte de dominância. 

As reações aparecem sempre que ele é contrariado! E são extremamente agressivas! Pois aí está um dos maiores desafios da minha vida profissional! 

Dúvidas? Dicas? Sugestões? Um abraço!


quarta-feira, 24 de outubro de 2012

PALESTRA - Semana Acadêmica de Medicina Veterinária da ULBRA

A convite da turma de Formandos, vou palestrar na Semana Acadêmica de Medicina Veterinária da ULBRA. A Palestra será no dia 31.10.2012, às 10:30, no auditório do Prédio I.

Aos interessados, informo que a entrada é franca e liberada para não alunos.

Segue abaixo a programação:


sexta-feira, 19 de outubro de 2012

PRECISO REALIZAR UM TRATAMENTO CLÍNICO EM UM CAVALO COM TRAUMAS COMPORTAMENTAIS... E AGORA?

Minha última postagem motivou uma pergunta, por parte de uma colega médica veterinária, da qual a resposta eu quero compartilhar aqui com todos.

"Gostei muito do blog... E gostaria de lhe perguntar, qual é a melhor forma de se portar frente a um cavalo que é maltratado, assustado e que sofreu algum tipo de lesão e não deixa realizar o tratamento em seus ferimentos?? Eu pergunto a você, pois sou veterinária e não gosto de ficar passando cachimbo e sedando..!! Queria entender outros métodos...!!!"

Cavalos com trauma por maus tratos e agressões exigem uma postura diferente da nossa parte, por duas razões básicas:

Primeiro porque quanto mais agressão sofrem, mais medo terão, e mais agressivos ficarão também, com intensão de se defender... Isso funciona como uma bola de neve, e quanto mais contenção física utilizares, pior ficará a situação. Até o ponto em que se tornará impossível realizá-la.

Segundo porque o trauma transforma o cavalo. Estes passam a não apresentar um comportamento previsível. Suas reações tornam-se instáveis e inesperadas, de modo que o risco de acidente de trabalho para o cavalo e para quem o maneja multiplica-se de forma muito relevante.

A coisa mais importante que temos que ter em mente quando manejamos um cavalo que tem um trauma e está com um ferimento é que este animal é a soma de dois sentimentos: MEDO e DOR.

A partir disso, todas as nossas ações devem ter como objetivo tirar medo e aliviar dor. Neste sentido, meu plano é ganhar a confiança deste cavalo, com uma linguagem clara e objetiva, a fim de mostrar para ele que não represento perigo, mas que comando a situação (utilizo muito o REFORÇO POSITIVO para isto). Depois sim, vou ao objetivo final que é o tratamento.

A nível de exemplo: supondo que existe uma lesão no membro anterior e o cavalo não permite o toque. Começo a tocá-lo pelo pescoço ou pela cernelha, com a intenção de tocar a paleta... e vou descendo a mão devagar e progressivamente até o local onde o cavalo se incomode com a minha mão (pode ser antes da lesão). Ali deixo minha mão até que ele pare com as tentativas de tirá-la dali.

Neste momento, é a hora de reforçarmos positivamente: Fazer um carinho na testa e sair breves segundos de perto do animal. Assim eu vou até que me permita chegar no local da lesão... Sempre liberando a pressão quando ele permitir o que eu desejo. 

No momento em que chegamos na lesão, ou no local onde queremos chegar, CUIDADO! Muita gente erra exatamente neste momento, por ansiedade! No momento em que conseguimos chegar, devemos ALIVIAR A PRESSÃO, tirar a mão. Ao contrário disso, o que mais se vê é a tentativa apressada de realizar o tratamento logo. Então, quando chegares onde quer, dê uma pausa, tome uma água, prepare a medicação... Dê ao cavalo a oportunidade de perceber que desejamos apenas chegar ali.

O passo seguinte sim, é chegar a este ponto com naturalidade e realizar o procedimento. Aqui escrevendo, parece um manejo demorado e custoso, mas não é... Verão logo os que tentarem, que este método é mais rápido e mais seguro, e que dá resultados.

Quero lembrar aqui também, que alguns medicamentos, principalmente em embalagens "spray", podem causar medo e, por consequência, reações por parte do cavalo. Algumas "jateadas" deste spray antes, para que o animal escute o barulho e se prepare para recebê-lo são úteis também!

Devemos levar em conta que o pensamento do cavalo é associativo. Ou seja, ele vai associar uma ação humana com o resultado desta. E a partir daí ele vai julgar se faz bem ou faz mal para ele. Isso é importante porque nós, enquanto humanos, enxergamos uma agulha como algo necessário para um tratamento, ao passo que os cavalos enxergam o mesmo objeto como causador de dor!

Outra coisa importante a se considerar é que quando COLOCAMOS uma pressão em um cavalo, estamos indicando, apenas, que queremos algo dele. O aprendizado ocorre justamente no momento em que TIRAMOS a pressão... Aí é que ele entende “Ahh, era isso que ele queria de mim...” Neste sentido, tem mais informações nesta postagem aqui.

Muitas vezes eu ouço que meus métodos demoram... Pode ser que demore mais no primeiro dia, sim! Mas no segundo dia vai demorar um pouco menos, e assim por diante até o dia em que não vai demorar... A repetição e a confiança fazem com que o trauma desapareça e, com isso, diminua o tempo de manejo ao longo dos dias.

Já outros métodos, mais rápidos nos primeiros dias, como colocar cachimbo e até sedar (por conta da agulha) levam o cavalo a mais traumas, mais desconfianças... e a um aumento no tempo de manejo ao longo dos dias... 

Os caminhos são inversos, entende? Eu prefiro dedicar um tempo a mais no início, para em poucos dias ter um animal mais confiante e que me permite qualquer manejo, do que de poupar tempo inicialmente e ter um animal cada vez mais desconfiado, perigoso e que despende de cada vez mais tempo para manejá-lo.

Porém, para finalizar, quero alertar sobre uma situação onde o bem-estar animal deve vir em segundo plano: São as EMERGÊNCIAS! Em casos assim, onde minutos podem fazer toda a diferença entre VIDA e MORTE, salvar o cavalo é o primeiro plano! Nestes casos, deve-se utilizar o método mais rápido de contenção disponível. 

Se tem que derrubar, derruba! Cuida a cabeça pra não bater com força no chão e derruba! Tem que sedar logo para uma cirurgia de cólica para salvar a vida do cavalo! Bote cachimbo, faça prega no pescoço, levante pata... Enfim, salve! Ou, pelo menos, faça tudo para isto. Depois sim, com o animal estável e a salvo, para um pós operatório mais tranquilo, com menos estresse, mais seguro e mais eficaz!

Dúvias? Dicas? Sugestões? Um abraço!


sexta-feira, 5 de outubro de 2012

NOÇÕES BÁSICAS DE COMPORTAMENTO HUMANO NO MANEJO COM EQUINOS

Acredito que todos que trabalham e convivem com equinos já vivenciaram ou presenciaram uma situação onde o cavalo apresentou um comportamento ruim DO NADA! Este é um dos maiores erros de conceito na relação homem x cavalo...

O comportamento da espécie equina é, em situações normais (sem traumas), previsível. Cavalos são animais fugidores. E como tal, não é de sua natureza propor uma ação. Em vez disso, reagem a uma ação proposta pelo homem.

Quero dizer, com isso, que nenhuma reação do cavalo ocorre sem motivo. O que acontece, muitas vezes, é que propomos uma ação involuntariamente, por não entender o modo como os cavalos nos interpretam.

Oscar Scarpati defende que o cavalo é mestre no comportamento humano. De fato, os equinos dominam totalmente nossa linguagem corporal, sentem o cheiro do nosso medo e podem captar nossa energia.

Sendo assim, nossa postura frente a um cavalo será determinante para o sucesso do manejo que pretendemos. Precisamos agir como um membro hierarquicamente acima dele para que possamos liderar a situação.

Isso não significa usar violência, mas sim atitudes firmes e decididas, com confiança e respeito. Gestos tranquilos e calmos, porém constantes, demonstram confiança e ausência de medo da nossa parte. Isso ajuda o cavalo a confiar e não temer também.

Ao mesmo tempo, pense no que vai fazer. Pode parecer um tanto louco ou absurdo, mas pensar no que está fazendo ajuda na linguagem corporal involuntária. Ou seja, o fato de desempenharmos uma ação pensando que vamos desempenhá-la ajuda nosso corpo a passar uma série de sinais corporais que avisam os cavalos da intenção que temos.

Respire fundo! Respiração trancada é sinal de tensão. O ato de respirar relaxa o corpo e diminui a frequência cardíaca. O cavalo consegue ajustar estas frequências dele às nossas, ou seja, se o humano está tenso, o cavalo também ficará. 

Faça pausas estratégicas durante os trabalhos. Durante alguns segundos, tire toda a pressão do cavalo. Isso permitirá que o cavalo pense e firme melhor o aprendizado.

As melhores recompensas para o cavalo são a pausa no trabalho e o alívio da pressão. Isso significa, para ele, economia de energia, que é vital para sua sobrevivência (instinto).

O cavalo aprende por repetição. Mas cuidado, a rotina os estressa também! Mudar o exercício ou manejo quando o cavalo acertar é mais válido do que repetir à exaustão.

Grandes treinadores defendem que quando um cavalo desempenhar uma reação ou exercício de maneira satisfatória por 3 vezes, é sinal de que aprendeu e fixou o solicitado, e que a partir daí a repetição se torna maléfica. Há ainda, treinadores que falam que apenas 1 vez bem desempenhado, com entrega por parte do cavalo, é suficiente!

Jango Salgado defende que devemos permitir ao cavalo o direito de errar! Segundo ele, oportunizar o erro por parte do cavalo é a melhor forma de mostrarmos a ele o que desejamos que ele faça!

O manejo e treinamento de equinos é uma escalada. E como Jango diz, mais gostoso do que chegar ao topo, deve ser desfrutar cada centímetro conquistado na escalada. A arte de ensinar cavalos está no fato de pedir o que eles podem nos dar, e a partir disso, aumentar progressivamente a exigência.

Confiança e liderança se conquista, não se impõe com violência. Cada cavalo tem seu tempo para aprender e para confiar. Respeitar este tempo é o modo mais rápido, seguro e eficaz de manejar equinos. Vamos devagar, porque temos pressa!

Por este motivo que o manejo e treinamento de cavalo é avesso a formulas e receitas. Não existem métodos fixos e número de treinamentos e repetições que sirvam para todos os cavalos. Devemos pensar em equinos individualmente.

Dúvidas? Dicas? Sugestões? Um abraço!